A vitória sobre os direitos laborais. A greve dos médicos -Feb 10 2013

10/02/2013 - Durante nove dias, os medicos mocambicanos entrarame m greve para reiviindicar seus direitos. Enfrentando a poderosa maquina desinformadora, os medicos conseguiram fazer-se ouvir, fazendo com o que o governo cedesse em relacao ao salario.

Dezembro de 2012, uma semana antes do Natal, a Associação Médica de Moçambique anuncia uma greve à escala nacional. 

O Governo, através do Ministério da Saúde, abre-se às conversações com os médicos para evitar o pior: sendo quadra festiva muitos cidadãos vítimas de acidentes ou de criminalidade podia sofrer por falta de médicos. Os médicos ficam movidos e decidem adiar a greve, mas sem consenso claro firmado com os médicos.  Assim, os médicos voltam a marcar uma outra data, isto é, a 7 de Janeiro de 2013. 
Num jogo de cintura, um dia antes, o Ministério da Saúde divulgou um comunicado, onde afirmava que a greve era ilegal por não ter sido convocada por um sindicato. A guerra estava aberta, as duas partes extremavam posições. 
Nessa data, uma segunda-feira, os médicos cumprem a sua palavra; gazetam às consultas do dia. 
Salas de espera superlotadas, doentes aparentemente desamparados, um movimento desusado, são algumas palavras que podem caracterizar o ambiente de procura de serviços de saúde no maior hospital do país. 
Mesmo com todos os departamentos a funcionar, a ausência de parte considerável dos poucos médicos existentes já em si é uma fraqueza para a mais procurada unidade sanitária do país. 
Domingos Diogo, Director Clínico do Hospital Central de Maputo, desdramatiza a ausência dos médicos e chama-os de faltosos. Domingos Diogo solidariza-se com a causa dos grevistas, mas distancia-se dos procedimentos usados, por entender que ainda não estavam esgotados os mecanismos de diálogo.
Para além de afirmar que a greve é ilegal e que os médicos são faltosos, o Ministério da Saúde orientou seus responsáveis nos hospitais e nas direcções de saúde a dizer que não aumento de tempo de espera dos serviços pelos pacientes.
Moçambique tem 1080 médicos no total. Desses, a Associação Médica dizia que mais de 90% aderiu à greve. Enquanto o Ministério da Saúde dizia que nem chegam à metade.
 
NOTÍCIA PELO MUNDO
No terceiro dia da greve dos médicos, as notícia já corria todo o mundo. 
O canal Voz da América indica que a greve dos médicos teve uma adesão de 90% e avança que as partes continuam de costas voltadas. 
Já o canal Africa 21, citando a Agência de Informação de Moçambique, indica que os médicos estão em greve e não se vão dirigir aos seus locais de trabalho. O portal Angola também fez machete com a gereve.
Já a Al Jazeera até sustenta a informação com a imagem do Chefe do Estado, Armando Guebuza, com a mão levantada. 
Logo no dia seguinte à greve, o canal televisivo sul-africano SABC destacou uma equipa para o Hospital Central de Maputo para acompanhar de perto e recolher imagens sobre a greve. 
 
Dia 14 de Janeiro, uma semana depois do início da greve, o “Juíz Móvel” interpela o primeiro-ministro da República de Moçambique, Alberto Vaquina, saindo de um encontro com estudantes universitários e este recusa-se a falar sobre a greve.
 
Por sua vez, o ministro da Saúde, Alexandre Manguele, abandonou um encontro com o Partido de Ampliação Social de Moçambique (PASOMO) depois de se aperceber da presença da imprensa.
 O presidente do mesmo partido, Francisco Campira, desagradado com a atitude de Vaquina e Manguele, chama o Governo de arrogante. 
 
Quase no décimo dia da greve, o governo moçambicano cedeu às exigências da Associação Médica e pôs fim a greve nacional de nove dias. Os médicos mantiveram uma reunião no dia 15 de Janeiro com o ministro da Saúde, onde as partes chegaram a consenso.
Através deste comunicado emitido pelo Governo que se resume em três pontos principais:
1.O Ministério da Saúde garante que não vai tomar nenhuma medida administrativa contra os médicos que aderiram à grave e faltaram aos seus postos de trabalho.
  
2.O Ministério da Saúde, em coordenação com a Associação Médica, vai criar e institucionalizar um novo Estatuto Médico e respectiva grelha salarial, digna e diferenciada no sector público com efeitos a partir de Abril.
 
3. As partes acordaram em estabelecer um mecanismo de diálogo e um cronograma de trabalho com datas específicas para criação do novo estatuto e salários.
 
 Com essa decisão, já se podia ver o rosto de satisfação pelo menos no presidente da Associação Médica de Moçambique, Jorge Arroz. 
Alexandre Manguele falou da necessidade de reconciliação entre o ministério e a Associação Médica e convidou os médicos a voltarem ao trabalho. 
Foi o fim de mais uma batalha, acompanhada atentamente pelo Juíz Móvel através da sua equipa em Maputo. A partir desta altura, os médicos que ganham cerca de 14 mil Maticais de Salário base, terão aproximadamente o dobro.
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