Quanto vale o teu salário?

O custo de vida está cada vez mais alto e esta é uma das coisas que os consumidores, a nível da cidade de Maputo, têm dificuldade em se adaptarem devido a baixos salarios que auferem

Consideram os consumidores. Se o preço de produtos ou bens de primeira necessidade já afligia grande parte dos moçambicanos, a recente subida do preço de combustível e de cimento levanta uma nova série de situações desagradáveis nas suas vidas. Haverá saída perante este “beco sem saída”? Aprender a viver de cinto mais apertado do que já está é a solução, defendem alguns economistas.

O custo de vida está cada vez mais alto e esta é uma das coisas que os consumidores, a nível da cidade de Maputo, têm dificuldade em se adaptarem. “Os preços dos produtos sobem quase sempre e é difícil viver desta maneira”, desabafa Sebastião José que encontrámos a fazer compras no mercado de Xipamanine. “A vida está pesada. Mal tentamos sobreviver com o pouco que ganhamos, eis que o preço dos produtos básicos sobe. Não sei aonde iremos parar com esta situação”, queixa-se outro cidadão de nome Júlio Manjate.

Na nossa visita aos mercados de Xipamanine, Malanga, Central e Janeth, a subida do preço de arroz e tomate é o que mais preocupa. Naqueles locais, o quilograma de arroz varia entre 26.50 a 35 meticais e um saco ronda entre os 600 e os 1200.

O tomate é comercializado de 35 a 45 meticais o quilo – 20 meticais a mais quando comparado com os meses passados. O preço de outros produtos que integram a chamada cesta básica também vem registando uma subida e, consequentemente, o poder de compra dos consumidores tem vindo a decrescer, sobretudo os que auferem um a cinco salários mínimos.

Não há nenhum registo de que, em algum momento, a remuneração básica nacional cobriu, ao menos, a metade das necessidades de alimentação. Apesar de os reajustes anuais que o mesmo vem sofrendo, o aumento não tem efeito significativo no orçamento doméstico. O quilograma de farinha de milho naqueles mercados está a ser vendido a preços entre 29 e 32 meticais contra os 25 e 28 praticados há sensivelmente um mês.

O mesmo ocorre com os produtos como feijão manteiga, batata reno, açúcar, cebola, ovos e carapau cujo preço também regista uma variação considerável. Agostinho Madeira, vendedor no mercado de Janeth, explica que este cenário “repete-se quase sempre” e é condicionado pelos armazenistas. “Hoje compramos os produtos muito caros e vendemos a um preço elevado para ter uma margem pequena de lucro”, conta.

O preço de combustível sobe

Além dos preços dos produtos alimentares, o agravamento do preço da gasolina e gás doméstico também está a deixar os moçambicanos “sem chão”. Esta nova realidade tornou-se o assunto de conversa em tudo quanto é canto. Há razões mais do que suficientes para tal: o preço da gasolina sofreu, pela quarta vez em menos de um ano, passando dos anteriores 37,02 o litro para 39,93 meticais.

“Hoje a vida está a tornar-se um pesadelo e não sei como será daqui para diante. Serei obrigado a parquear a minha viatura porque, pelo que oiço dizer por aí, prevê-se ainda outras subidas nos próximos meses”, comenta o automobilista Bernardo Muchanga.

A subida do preço de gás de cozinha é outra grande dor de cabeça dos consumidores. O mesmo registou um aumento de 3.19 meticais o quilo, ou seja, passa dos 48,93 meticais para 52,85 o quilo. “É um situação lamentável. Não se justifica que num país onde se produz gás se assista à subida de preço nesse produto. Isso irá forçar-nos a arranjar outras alternativas, ou seja, teremos de optar por outras formas de energia”, diz Isabel Pereira.

O custo do cimento não fica atrás

A Fábrica de Cimentos de Moçambique aumentou o preço de cimento, de 238,68 para 262,o7 meticais, forçando, assim, os revendedores grossistas e retalhistas a reajustarem o preço. Antes de se verificar o aumento, o produto era comercializado ao preço de 275 pelos grossistas e, por sua vez, os retalhistas vendiam a valores que variam entre 290 e 320 meticais. Com efeito, as obras, sobretudo as dos moçambicanos que enveredam pela autoconstrução da habitação, poderão viver momentos difíceis nos próximos dias.

Segundo os empreiteiros, algumas empreitadas poderão, indubitavelmente, rever os orçamentos de modo a ajustá-los ao novo cenário. Já para algumas pessoas que trabalham na produção de blocos para construção afirmam que o preço dos mesmos irá subir e, assim, passarão a comprar menos sacos de cimento do que anteriormente.

Acácio Chongo, proprietário de um estaleiro, afirma que adquire, por dia, 20 sacos, mas com a alteração do preço passará a comprar apenas 15. “Também o preço vai subir”, revela. Os blocos que custam entre 10 e 15 meticais serão comercializados a 15 e 18, respectivamente. A “culpa” é do metical A moeda nacional, o metical, continua a ser o “mau da fita”, uma vez que regista uma acelerada derrapagem face às principais divisas estrangeiras usadas em Moçambique.

Nos primeiros três meses do ano, o metical caiu 5,07% em relação ao dólar e ao rand. Tanto para o Governo, como para a Cimentos de Moçambique e os vendedores de bens alimentares, os preços continuarão elevados uma vez que os produtos são importados com recurso àquelas moedas. A produtora de cimentos afirma, através de um comunicado de imprensa, que o agravamento do preço do seu produto se deve à desvalorização do metical face ao dólar e ao rand, visto que a matéria-prima, cotada com base naquelas divisas, para a produção de cimento registou um aumento superior a 20%.

E os armazenistas e lojistas também apontam para a derrapagem do metical e explicam que “não podemos baixar os preços, uma vez que dependemos do mercado internacional”. Solução: apertar o cinto Para alguns economistas abordados pelo @Verdade, o elevado custo de vida no país é resultado da “falta de políticas de produção” que vão de encontro às necessidades reais dos moçambicanos. “A maior parte dos produtos que se consomem no país são importados e isso tem as suas implicações”, diz, por exemplo, o economista Jacinto Ribaué.

Os economistas defendem que eliminar ou evitar gastos desnecessários e privar-se de certas coisas para poupar algum dinheiro é a decisão imediata que os consumidores devem tomar nos casos em que o preço dos produtos básicos estiver sempre a subir. Os mesmos afirmam que só com este estilo de vida será possível poupar muito dinheiro num ano, que poderá servir para aplicar em coisas mais úteis.

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